

RIO, 21/7/2017 – Muitos quartos, poucos hóspedes. Essa é a situação atual da rede de hotelaria nacional, passada a euforia levantada pela expectativa de realização no País da Copa do Mundo, em 2014, e da Olimpíada, em 2016.
Os megaeventos esportivos expandiram a oferta de leitos em praticamente todas as capitais brasileiras. Mas os empreendimentos construídos ou renovados para a chegada de torcedores brasileiros e estrangeiros enfrentam agora dificuldade para manter as vagas ocupados. A ocupação média, que alcançou 62,70% em 2011, está em 56,74% nos primeiros meses deste ano, calculou a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH).
“A taxa de 50% de ocupação é suficiente para pagar os custos básicos e ter um mínimo de rentabilidade. Mas, para que se possa reinvestir, dar um incremento, é necessário um mínimo de 60% de ocupação média”, diz o presidente do Sindicato dos Hotéis de Porto Alegre (SHPOA), Carlos Henrique Schmidt.
Nos últimos cinco anos, houve um crescimento de 15% no número de estabelecimentos de hospedagem nas capitais brasileiras, enquanto o total de leitos cresceu 15,4%, de acordo com dados divulgados esta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Empresários reclamam que impostos regionais e custos com energia e mão de obra subiram junto com a oferta de leitos.
“Ninguém aguenta 40% de carga tributária. Um hotel de 100 apartamentos precisa encher 40 para depois comprar o pão do café da manhã. Aí vende mais 20 para pagar os custos da área comercial. Depois precisa pagar a luz, os salários. Não dá para ter uma atividade dessas”, queixou-se Dilson Jatahy Fonseca Júnior, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH Nacional).
Apesar da crise econômica e da elevada taxa de desemprego no País, um em cada quatro brasileiros afirma que fez ou pretende fazer alguma viagem em 2017. No entanto, 67% deles têm intenção de se hospedar na casa de parentes ou amigos, apontou a Pesquisa Nacional sobre Turismo realizada pela Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ) em parceria com o instituto de pesquisa Ipsos.
A falta de demanda já provoca fechamento de andares inteiros em hotéis de grande porte, queda generalizada nos preços das diárias e dispensa de mão de obra, segundo a Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA).
A entidade aponta que o setor de hospedagem e alojamento já demitiu 150 mil funcionários com carteira assinada nas principais capitais do País, desde o fim da Olimpíada, com base em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho.
“A oferta de leitos cresceu exponencialmente, os hotéis estão com uma ocupação pífia. Temos notícia de que alguns estão para fechar na Barra da Tijuca. É o quadro mais dramático do Rio”, alertou Alexandre Sampaio, o presidente da FBHA.
Inaugurado em julho de 2016, às vésperas dos jogos olímpicos do Rio, o hotel Venit proporcionou aos hóspedes uma das melhores vistas para o Parque Olímpico, na zona oeste da cidade. Debruçado sobre algumas das principais arenas, as instalações padrão quatro estrelas lotaram durante os jogos, mas viram o movimento diminuir junto com a partida dos atletas. Segundo o assistente de diretoria do hotel, Henrique Abreu, o baixo movimento está associado à falta de uma agenda consistente de eventos na região da chamada Barra Olímpica que aproveite o legado dos jogos.
“Quando tem evento os hotéis ficam cheios, movimenta muito a região. Já estamos completamente lotados para a segunda semana do Rock in Rio, em setembro, e para a primeira semana também estamos com uma procura grande”, contou Abreu.
Uma solução encontrada por empresários para a escassez de demanda em tempos de recessão é usar a infraestrutura hoteleira disponível para atrair os moradores da própria cidade. Diante do baixo aproveitamento das arenas esportivas após os jogos, a solução do Venit foi abrir as instalações de lazer praticamente novas para que os moradores da região usufruam em esquema de day use.
É possível aproveitar a piscina, sauna, sala de musculação, bar e o próprio quarto por um preço mais baixo do que a tarifa comum, desde que não haja pernoite. O hotel oferece ainda descontos de 15% em seus dois restaurantes, o Curi e o Matera, para moradores dos bairros vizinhos.
Pelo menos dois outros hotéis de luxo cariocas já aderiram ao programa de day use, o Gran Hyatt, na praia da Barra da Tijuca, e o Fasano, na orla de Ipanema.
“Acho que é o foco de todo mundo hoje em dia. O Rio de Janeiro está nessa pegada”, reconheceu Abreu.
(Daniela Amorim)
Cadastre-se para receber os nossos conteúdos por e-mail.